TARDÍGRADO, O IMORTAL
- Thiag A C Borella
- 14 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de jun. de 2020
Imagina um animal que pode suportar altas frequências de radiação, temperaturas próximas de fervura, quase o zero absoluto, e até mesmo sobreviver no espaço durante um longo período de tempo. Este é o Tardígrado, ou o também conhecido Urso D'água, um animal simpático e pequenininho, mas também muito resistente a diferentes ambientes.
Com um tamanho entre 0,05 mm a 1, 25 mm (diâmetro de um alfinete), seis patas, com longas unhas, corpo roliço e aparência de alienígena, fofo e simpático. Os tardígrados são animais muito estudados pelas suas particularidades incomuns.
São considerados extremófilos, classe de seres que vivem em ambientes com condições extremas onde quase nenhum outro ser vivo consegue sobreviver.
Com mais de 800 espécies diferentes registradas, estes animais podem ser encontrados em praticamente qualquer lugar, como o seu jardim, ou em geleiras da Antártida e do Ártico, crateras vulcânicas no monte Fuji e, até mesmo, a 6.000 metros de profundidade no meio do oceano.
Muitas espécies de tardígrados são herbívoros, alimentando-se de plantas como algas e musgos, enquanto outras podem se alimentar de bactérias, detritos e até mesmo de outros tardígrados.
Pesquisas realizadas com estes animais revelaram que algumas espécies podem sobreviver a temperaturas próximas dos 100ºC (temperatura onde a água começa a ferver) e -243ºC (a água se transforma em gelo próximo de 0ºC). Estes animais têm resistência à radiações ionizantes, acima de 4000Gy, mais de 10 vezes o que um ser humano poderia suportar (30Gy é fatal para os seres humanos).
Para sobreviver em condições extremas, o tardígrado entra em criptobiose, um estado de hibernação onde este reduz o seu metabolismo para menos de 0,01% do normal do seu corpo (um estado de quase morte), retrai suas patas e cabeça e elimina boa parte da água contida em seu corpo, ficando apenas 1% da taxa normal. Ele pode ficar nesta condição por mais de 30 anos, e voltar ao seu estado normal sem nenhum problema.
Cada espécie de tardígrado é adaptada a um ambiente diferente, ou seja, a espécie que sobrevive nas geleiras não necessariamente conseguirá sobreviver nas crateras vulcânicas e vice-versa.
Devido a estas inúmeras capacidades, em 2007, a Agência Espacial Europeia enviou Tardígrados para o vácuo do espaço e, estes, além de sobreviverem, conseguiram se reproduzir ao voltar para a Terra. O Programa Espacial Israelense enviou amostras destes animais para a Lua, mas devido a um acidente, infelizmente foram espalhados no solo lunar, contaminando o ambiente, não se sabendo ainda se podem estarem vivos ou não. O que pode ser considerado uma tragédia, mas que pode também trazer novas descobertas.
Mas por que eles são animais tão resistentes?
Estudos sugerem que estas características venham da capacidade de incorporar o DNA de outros seres vivos como plantas, fungos e bactérias, em seu próprio DNA. E, desta forma, produzirem uma proteína chamada Dsup, que funciona como um protetor do seu DNA, quando expostos em situação de estresse.
Qual a finalidade de se estudar estes animais?
Ao entender como funciona estas adaptações, os pesquisadores poderão incorporar essas descobertas criando novos tratamentos para várias doenças degenerativas, principalmente, aquelas envolvidas com a alteração no material genético, preservação de tecido de enxerto, novas tecnologias para a exploração espacial, produção de alimentos mais resistentes e uma infinidade de usos.
A observação da natureza, como meio para desenvolver tecnologias para o benefício dos seres humanos, existe há muito tempo e ainda temos muito a aprender, o que só será possível mediante sua conservação.
Artigo revisado pela Professora Bióloga Carla Pinotti de Assumpção
Texto baseado nas seguintes leituras:
A new freshwater eutardigrade from Fiji and Vanuatu (Oceania), with remarks on the genusDactylobiotus
Establishment of a Rearing System of the Extremotolerant Tardigrade Ramazzottius varieornatus: A New Model Animal for Astrobiology
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